As professoras de Arte do Cotuca, Profa. Dra. Mara Rosangela FerraroNita (Artes Visuais) e Profa. Dra. Patricia Rita Cortelazzo (Teatro) há mais de uma década realizam um trabalho em parceria nos eventos como Gincana Cultural, Semana de Arte, Colégio Aberto, exposições, entre outros. Apartir de 2016, sentiram a necessidade de reformular suas práticas pedagógicas depois que começaram a trabalhar em conjunto com a temática de projetos: “O resultado foi tão interessante e satisfatório que decidimos realizar projetos com uma frequência cada vez maior. Projetos que passaram a ser chamados de Projetos Integrados, pois procuramos, cada vez mais, integrar linguagens artísticas e priorizar a arte contemporânea”, explicam Mara e Patricia.
Em 2020 decidiram enviar o projeto realizado em 2019, “Caixinhas Secretas: a integração social por meio da arte”, desenvolvido com alunos dos segundos diurnos (Mecatrônica, Eletroeletrônica, Alimentos, Informática e Enfermagem) e terceiros noturnos (Mecatrônica e Eletroeletrônica), para concorrerem ao Prêmio Arte na Escola Cidadã, do Instituto Arte na Escola, referência para o Ensino da Arte no Brasil. Depois de passarem por diferentes etapas classificatórias o projeto foi um dos 20 finalistas, do total de 1400 inscritos. O resultado sai no dia 25 de novembro. O prêmio é de 10 mil por categoria e um computador e uma câmera digital para a escola premiada. As professoras se dizem muito felizes, pois entendem que chegar à final é o reconhecimento de uma dedicação de mais de 20 anos ao Ensino da Arte, bem como um estímulo para continuar realizando projetos que envolvam os alunos e que intensifiquem a presença da arte no contexto escolar.
Elas explicam que os objetivos principais do projeto Caixinhas Secretas foi promover uma maior integração entre os alunos de diferentes cursos e turnos e instigar o olhar para a questão da quebra do suporte na arte contemporânea. Contam ainda que o projeto foi inspirado no movimento da Arte Postal iniciado nos anos de 1970 e na obra Estruturas de caixas de fósforos, de Lygia Clark, de 1964: “Pensamos em realizar uma espécie de correio, de troca de correspondência entre os alunos para que eles pudessem interagir lúdica e poeticamente entre si, enquanto comunidade escolar. Uma espécie de “amigo secreto”, cujo presente fosse algo singelo, produzido artesanalmente por cada um deles,cujo suporte era uma simples caixa de fósforo”.
Inicialmente as professoras apresentaram O poema “Eu, etiqueta”, de 1984, de Carlos Drummond de Andrade, para discutir com os alunos a ideia da produção artesanal em contraponto ao consumismo e a ditadura das grandes corporações e marcas. Depois apresentaram um inventário de obras cuja base fosse a caixa de fósforo em si, caixa sou similares de diferentes formatos. Ou seja, um suporte que revelasse algo ao ser aberto (como a caixa de Pandora). “Foi assim que chegamos nas caixas de Duchamp, do Grupo Fluxus, de Cildo Meireles, na valise e marmita de Carlos Zílio e no já citado projeto Estruturas de caixas de fósforo, de Lygia Clarck”.
Numa outra etapa, foi realizado o sorteio dos alunos e depois de algumas semanas, a troca das caixinhas no período do jantar (entre turnos). As caixinhas, concebidas livremente pelos alunos, foram feitas em período extra sala para manter a ideia da surpresa. Os materiais utilizados foram os mais variados possíveis: tinta, LED, tecido, papel, biscuit, arame, impressões, sementes, etc. Salvo raras exceções (em carros, aviões e naves), as caixas se abriam e reservavam surpresas com pintura, som, luz, doces, dobraduras, modelagem, textos (em braile, inclusive). Os temas variaram imensamente, mas a temática da música, personagens, filmes e séries, games e esportes foram imensamente explorados pelos alunos.
Ao final do processo pode-se concluir que os alunos se envolveram de forma bastante significativa com o projeto, criando caixinhas-presentes criativas e originais. “Mergulhar nos interesses e referências artísticas e culturais dos alunos foi uma experiência riquíssima para nós também. A partir desta trajetória planejamos várias ações futuras. Tanto as Caixinhas secretas,como inúmeros outros Projetos Integrados realizados por nós têm aumentado a nossa certeza de que a Arte é necessária e urgente enquanto campo de conhecimento para a formação de jovens sensíveis, críticos e criativos, que se sintam encorajados a se expressarem e lerem o mundo com sensibilidade e autonomia” disseram as professoras.
Caixinhas secretas
Profa. Dra. Mara Rosângela Ferraro Nita
Profa. Dra. Patricia Rita Cortelazzo
Colégio Técnico de Campinas – COTUCA
Objetivos
Conhecer as referências culturais e artísticas de nosso público adolescente
Trabalhar com referencias da Arte contemporânea e a quebra do suporte tradicional
Discutir a questão do consumismo versus o artesanal
Promover a integração social entre nossos alunos do diurno e noturno, bem como entre os alunos de cursos técnicos distintos.
Referências Artísticas
CILDO MEIRELES, O SERMÃO DA MONTANHA: FIAT LUX, 1979.
Caixinhas produzidas pelos nossos alunos em 2019