Cigarro eletrônico: inofensivo ou enganoso?

No dia 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo,  uma data para refletir sobre os impactos do tabaco na saúde. E já que o assunto é importante, hoje vamos falar de um tema que está cada vez mais presente no dia a dia dos jovens e adultos: o cigarro eletrônico.

O primeiro dispositivo eletrônico para fumar (DEF), conhecido popularmente como cigarro eletrônico, foi desenvolvido e patenteado em 1963, porém somente nos anos 2000 esses produtos começaram a ser comercializados e divulgados em larga escala em todo o mundo1. No entanto, no Brasil, a fabricação, a distribuição, o armazenamento, a comercialização, o transporte, a importação e a propaganda de todos os DEFS são proibidos, por meio da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 855, de 23 de abril de 2024, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) 2.

A proposta inicial era servir como uma alternativa menos nociva para fumantes de cigarros convencionais, auxiliando a reduzir ou até abandonar o consumo. No entanto, o que se viu foram os cigarros eletrônicos passando a ser porta de entrada para o uso da nicotina entre jovens não fumantes.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia, estudos recentes indicam que pessoas que tentaram parar de fumar cigarro convencional utilizando cigarros eletrônicos tiveram 28% menos chance de sucesso do que os que não utilizaram esses dispositivos4. Isso ocorre porque a nicotina, principal substância psicoativa do DEF, é altamente viciante e estimula o sistema de recompensa do cérebro em poucos segundos após a tragada, o que reforça a dependência química, física e psicológica. Além disso, os usuários desses dispositivos não se consideram fumantes e muitos acreditam que os vaporizadores são apenas “vapor de água” pois foi o que a indústria dos DEFs os levou a acreditarem3.

Os dispositivos eletrônicos para fumar, também são conhecidos popularmente como Pods, Vapes, Pendrives e outros. Eles podem ser recarregáveis ou descartáveis, coloridos, compactos e atrativos, sobretudo para os jovens. A variedade de sabores e aromas agradáveis, diferentemente dos cigarros convencionais, pode gerar a percepção de que seriam produtos inofensivos ou menos prejudiciais à saúde, porém um único Pod pode conter nicotina equivalente a um maço de 20 cigarros convencionais e dependendo do modelo do DEF um único dispositivo pode conter a nicotina equivalente a três maços de cigarro2 .Seu funcionamento baseia-se no aquecimento de líquidos no cartucho conhecidos como e-liquids, que contêm solventes como glicerina vegetal e propilenoglicol, além de aromatizantes e concentrações variadas de nicotina dependendo do fabricante. O aquecimento desse líquido gera um aerossol inalado pelos usuários, que além das substâncias já citadas, pode conter metais pesados, compostos voláteis e agentes cancerígenos1.

O uso dos cigarros eletrônicos está associado a diferentes problemas de saúde, como dependência de nicotina, doenças respiratórias (asma, doença pulmonar obstrutiva crônica e bronquiolite obliterante, também conhecida como “pulmão de pipoca”), além de doenças cardiovasculares, metabólicas e bucais2.

Um dos maiores alertas surgiu em 2019, quando foi descrita nos Estados Unidos a EVALI (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), uma doença pulmonar grave induzida pelo cigarro eletrônico4. Essa condição foi relacionada a alguns solventes e aditivos presentes nos líquidos, que provocam reações inflamatórias severas no pulmão, podendo causar fibrose, pneumonia e insuficiência respiratória. A idade média dos pacientes era de 24 anos, e os principais sintomas percebidos incluíam tosse, dor torácica e falta de ar, além de sintomas gastrointestinais, tais como dor abdominal, náuseas, vômitos e diarréia e sintomas inespecíficos, como febre, calafrios e perda de peso.

Respondendo à pergunta do título: como visto até aqui, o cigarro eletrônico não tem nada de inofensivo, ao contrário, ofende a saúde individual, do planeta e a boa fé dos que acreditaram que era uma medida de redução de danos. E sim, muito enganoso: vestiu-se em pele de cordeiro prometendo ajudar na cessação tabágica mas na realidade veio para criar uma nova geração de fumantes.

Diante desses riscos, é importante conscientizar a população, sobretudo jovens e adolescentes, e estimular que não iniciem ou se já estão usando, que tentem parar o mais cedo possível.  Busque Locais para tratamento:

  • HC/ASPA – Ambulatório de Tabagismo (aberto à população)

Grupo Motivacional: 4° feira das 7:30 às 8:30 -2° andar do HC – Ambulatório de Substâncias Psicoativas (ASPA) – Faixa amarela

Não há necessidade de inscrição.

Fone: 3521-7514

  • CECOM – Centro de Saúde da Comunidade

Tratamento do Tabagismo (Atendimento a servidores e docentes da Unicamp)

O atendimento inicial é realizado através da Assistente Social do Cecom, e-mail: asocial@unicamp.br, que acolhe e realiza os encaminhamentos necessários.

Telefone: (19) 3521-9017

  • UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE – UBS

Procure o Posto de Saúde de seu bairro e verifique a existência de um Programa de Controle e Tratamento do Tabagismo. Leve seus documentos de identificação e se inscreva!

REFERÊNCIAS

1 – Carvalho AM, Bertoni N, Souza MC, Szklo AS. Cigarros eletrônicos: o que sabemos? Estudos sobre os Dispositivos Eletrônicos para Fumar. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva; 2016. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/cigarros-eletronicos-o-que-sabemos

2 – Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Dispositivos eletrônicos para fumar: conheça os danos que eles causam. Rio de Janeiro: INCA; 2024. Disponível em: https://ninho.inca.gov.br/jspui/handle/123456789/16707

3 – Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Trocar cigarro por cigarro eletrônico ou cigarro de tabaco aquecido não é estratégia de saúde pública comprovada ou segura para parar de fumar, dizem SBPT e SPP [Internet]. Lisboa: SPP; 2022 [cited 2025 Aug 20]. Available from: https://sbpt.org.br/portal/cigarro-eletronico-aquecido-inglaterra/?utm

4 – Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Posicionamento sobre os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) — Brasília, DF; 5 abr 2022. Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/dispositivos-eletronicos-para-fumar/